Corina Lozovan nasceu em Chisinau, na Moldávia. Chegou a Portugal em 2001 e ao longo do tempo, a língua portuguesa tornou-se como a sua própria língua, criando raízes dentro de si. Escreve ficção e poesia, tendo contribuído recentemente com poemas para a revista grega Teflon (Τεφλόν), os Fazedores de Letras e o projeto A Bacana.
Irreversível
Treme a terra, rompendo suturas
Qual é a tua religião?
O cheiro de jasmim invade-me os sentidos
Não dissipes,
Fica.
Beleza amarga
Desvanece como fumo:
Explosão incandescente, pura
Simplesmente irreversível.
Isto é o quê?
Ária
Virtuosidade sem limites
Em cada teclado do piano
A clave de sol
Onde a minha voz desliza
Sem um suspiro
Sou a reinvenção do ritmo
E da ordem que seduz
A existência pontual
Sem remorsos
Em crescendos de luz
A beleza e o caos entrelaçados
No silêncio da audiência
Uma suspensão cósmica –
O tremor dos lábios,
Do coração e o visceral a latejar
No vibrato maternal:
A vida
Ancestral
A poesia não vacina contra a morte, mas opera sem anestesia.
Neste corpo articulado, o Dr. Frankestein, diretor da investigação, observa:
Genoma 1
A violência é uma garantia de sucesso,
Talvez esta seja a estrutura de um bem
Mais visceral
Que coagula o apetite,
Neste quotidiano parasita
Assim vejo o Caos,
A imensidade que tudo absorve
Genoma 2
Que Svengali que tu és,
Sublime encantador avant-garde
Ou um kitsch da modernidade
Saberá a mulher que bebeu a sua reflexão –
Olympia, a incarnação da perfeição
Tremendo em delírio
Vislumbre de um miasma,
A vida etérea:
Que tanto se decompõe
Voa, esta constelação humana,
Os genes no espaço sideral
Multiplicam-se como estrelas
Que mapeiam o corpo
A
N
C
E
S
T
R
A
L
O(I) Rh+ ou –
É a Hemoglobina
Que carrega o ar,
No Vaso
Vasto
Vascular
O primeiro sopro de quem nasce.
Eu sou o Império da decadência
Eu sou o Império da decadência,
A supremacia do ser abandonado
No pavor noturno, que atrofia com o verbo
Querer.
Esta síndrome da aflição: contraditória, sufocante
Incomoda.
Mas o paciente é paciente,
Estranhando a razão etílica
Disseca qualquer argumento sanguíneo
E repete continuamente:
O bisturi não corta o poder.
Arte: Die Operation, de Gaspare Traversi.